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No amor não existe medo: Fato ou mito?

Atualizado: há 6 dias

No amor não existe medo por Psi Danielle Bevilaqua
“No amor não existe medo” por Psi Danielle Bevilaqua

Eu como psicóloga, psicanalista e com uma bagagem como especialista em relacionamentos com mais de duas décadas por perceber em minha experiência clínica o quanto o amor nos afeta e como acabamos fazendo uma imagem, por vezes idealizada do amor, achei interessante compartilhar com vcs minha análise psicanalítica profunda sobre a frase “No amor não existe medo”.


Quando a crença popular encontra o inconsciente


A frase “no amor não existe medo” ecoa nos discursos cotidianos, nos conselhos entre amigos, nas canções românticas e até mesmo em publicações motivacionais. Ela traz, à primeira vista, uma promessa de segurança: amar é se sentir protegido, acolhido, inteiro. Mas será mesmo que o amor, tal como é vivido por nós – seres humanos complexos, afetivamente marcados por experiências e inconscientes pulsantes – pode existir completamente isento de medo?

Na prática clínica, especialmente quando o foco são os relacionamentos, observamos que o amor muitas vezes vem acompanhado de angústias, inseguranças e, sim, de medos profundos. E é justamente essa contradição entre o que se acredita socialmente e o que se vive subjetivamente que nos convida a refletir sob a ótica da psicanálise.



O que Freud nos ensinou sobre o amor e o medo


Sigmund Freud, pai da psicanálise, lançou as bases para compreendermos o amor não apenas como afeto, mas como pulsão. Em “Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade” (1905), Freud mostra que a sexualidade humana é atravessada por conflitos, ambivalências e desejos inconscientes. O amor é uma elaboração possível dessa pulsão, mas nunca está totalmente “limpo” de seus componentes primitivos.

Para Freud, o medo pode surgir do conflito entre o desejo e a censura interna – o Supereu, que nos julga, e o Isso, que deseja. Amar, portanto, pode ativar antigos medos: de perda, de rejeição, de abandono, de castração. O amor, longe de ser um campo livre de medo, pode ser o palco onde esses medos se atualizam.



Melanie Klein: o amor atravessado pela posição esquizoparanóide


Melanie Klein amplia essa visão ao introduzir as noções de posição esquizoparanóide e posição depressiva. No início da vida, o bebê vive o seio materno como bom ou mau, conforme sua capacidade de satisfazer ou frustrar suas necessidades. Esse objeto “dividido” é o embrião das relações futuras.

Quando adultos, muitas vezes projetamos no outro – parceiro, parceira – esse “objeto primitivo”. O medo no amor, então, pode emergir da vivência arcaica de perda do objeto amado ou da sua destruição. Klein nos ajuda a compreender que o amor maduro exige o luto da idealização e o acolhimento da ambivalência: amamos e odiamos, queremos nos fundir e tememos ser engolidos.



Winnicott e o paradoxo do vínculo: estar só na presença do outro


Donald Winnicott nos convida a pensar no amor como um espaço transicional – entre o que é meu e o que é do outro. Ele afirma que para amar de forma verdadeira, é preciso ter vivido a experiência de estar só na presença de alguém confiável. Essa experiência, originada na infância com o cuidador suficientemente bom, é o alicerce do amor adulto saudável.

Quando essa experiência falha, o amor pode ser vivido com medo da invasão, da perda de si ou da solidão absoluta. Winnicott nos mostra que amar é sustentar a separação e a intimidade simultaneamente. O medo, portanto, faz parte desse equilíbrio dinâmico entre autonomia e vínculo.



Ferenczi e o trauma do amor precoce


Sandor Ferenczi traz um olhar crucial sobre o amor que fere: em suas investigações sobre o trauma, ele descreve como o amor parental ambíguo pode gerar confusão entre cuidado e violência. Para Ferenczi, o trauma ocorre quando o sujeito é submetido a um amor que o anula, o domina ou o erotiza precocemente.

Esse tipo de experiência, quando não simbolizada, se repete nos vínculos amorosos adultos. O medo no amor, aqui, é um eco do trauma: medo de ser ferido novamente por quem deveria cuidar.



Carl Jung e o inconsciente coletivo: o arquétipo do amor ideal


Jung, por sua vez, amplia o olhar da psicanálise clássica ao considerar o inconsciente coletivo. Ele observa que projetamos no outro nossas imagens arquetípicas: a anima, o animus, o self idealizado. Assim, quando amamos, não vemos o outro tal como ele é, mas como ele representa algo inconsciente em nós.

O medo, nesse caso, pode vir da frustração – quando o outro não corresponde à imagem projetada. Amar, para Jung, é um caminho de individuação: um convite para integrar a sombra e reconhecer a alteridade do parceiro.



O fascínio popular pela ideia de um amor sem medo


Por que, então, a ideia de que “no amor não existe medo” é tão difundida no imaginário popular?

Essa crença funciona como um ideal narcísico – uma promessa de plenitude, de simbiose perfeita, onde não há falhas, rejeições ou ameaças. Ela responde a uma fantasia de reparação: muitos de nós desejam um amor que cure feridas antigas. Mas ao negar o medo, nega-se também a complexidade do encontro amoroso real.

Essa ideia está profundamente enraizada em discursos românticos, religiosos e midiáticos. E ao se tornar um imperativo cultural, acaba silenciando experiências legítimas: sentir medo no amor não é sinal de fraqueza, mas de humanidade.



Casos clínicos e histórias reais


Vou compartilhar alguns exemplos para te ajudar a assimilar o conteúdo estou trazendo:


Caso 1: Ana, 32 anos, viveu amores intensos, mas fugia ao menor sinal de compromisso. Em análise, reconheceu que o medo não era do outro, mas de reviver a perda do pai na infância. O amor, para ela, ativava o luto não elaborado.


Caso 2: Eduardo, 45 anos, se anulava nas relações para “manter o amor vivo”. Descobriu que repetia uma dinâmica materna: o amor como renúncia de si. Seu medo era de ser rejeitado por se posicionar.

Ambos os casos revelam como o medo no amor é uma via de acesso ao inconsciente. Não há amor verdadeiro sem atravessar os fantasmas que ele convoca.



Reflexão final: o amor que acolhe o medo é o amor que cura


Quando escutamos com profundidade, percebemos que o amor que realmente transforma não é o que exclui o medo, mas o que o acolhe, o simboliza e o ressignifica. O amor verdadeiro é aquele em que se pode ter medo e, ainda assim, seguir.

Em vez de negar o medo, talvez possamos aprender a perguntar: de onde vem esse medo? A quem ele pertence? E mais: será que amar também é ter coragem de se encontrar com suas próprias vulnerabilidades?



Convite à reflexão e ao autoconhecimento


Se você se identificou com este texto, se sente que o amor já te trouxe medos que você não soube nomear, convido você a aprofundar essa escuta de si. Em meu perfil, compartilho conteúdos que ajudam a compreender o inconsciente nos relacionamentos e a transformar a dor em crescimento.


Siga-me para continuar essa jornada de autoconhecimento e escuta psicanalítica.



📚 Leitura Recomendada


Título: O Tempo e o Cão – A Atualidade das Depressões

Autora: Maria Rita Kehl


Por que ler: Embora o livro trate diretamente da depressão, ele toca profundamente nas questões do amor, da falta e do medo no laço social. Kehl aborda como o sofrimento psíquico se articula com o excesso de idealizações — inclusive no amor — e como o medo pode ser expressão de algo que não encontra simbolização no discurso dominante. Uma leitura que ajuda a pensar o amor real, aquele que suporta falhas e angústias.



Título: A gente mira no amor e acerta na solidão

Autora: Ana Suy


Por que ler: Neste livro, Ana Suy explora como o amor, em suas diversas formas, não elimina a solidão inerente à condição humana. Ela sugere que o amor contém a solidão em seu interior, convidando o leitor a refletir sobre a complexidade dos relacionamentos e a aceitação das próprias vulnerabilidades. 



🌐 Referência Externa


Título: Amor e solidão: uma conversa com a psicanalista Ana Suy

Fonte: Revista Marie Claire


Por que acessar: Nesta entrevista, Ana Suy discute como o amor e a solidão estão entrelaçados, oferecendo insights sobre como lidar com os medos e expectativas nos relacionamentos contemporâneos.

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